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1
Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus.
João, o Batista
2 Conforme está escrito no profeta
Isaías: Eis que envio ante a tua face o meu mensageiro, que
há de preparar o teu caminho;
3 voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas;
4 assim apareceu João, o Batista, no deserto, pregando o batismo de arrependimento para remissão dos pecados.
5 E saíam a ter com ele toda a terra da Judeia, e todos os
moradores de Jerusalém; e eram por ele batizados no rio
Jordão, confessando os seus pecados.
6 Ora, João usava uma veste de pêlos de camelo, um cinto
de couro em torno de seus lombos, e comia gafanhotos e mel silvestre.
João dá testemunho de Jesus
7 E pregava, dizendo: Após mim vem aquele que
é mais poderoso do que eu, de quem não sou digno de,
inclinando-me, desatar a correia das alparcas.
8 Eu vos batizei em água; ele, porém, vos batizará no Espírito Santo.
O batismo de Jesus
9 E aconteceu, naqueles dias, que veio Jesus de Nazaré da Galileia e foi batizado por João no Jordão.
10 E logo, quando saía da água, viu os céus se abrirem e o Espírito, qual pomba, a descer sobre ele;
11 e ouviu-se dos céus esta voz: Tu és meu Filho amado; em ti me comprazo.
A tentação de Jesus
12 Imediatamente o Espírito o impeliu para o deserto.
13 E esteve no deserto quarenta dias, sentado tentado por Satanás; estava entre as feras e os anjos o serviam.
Jesus volta para a Galileia
14 Ora, depois que João foi entregue, veio Jesus para a Galileia pregando o evangelho de Deus
15 e dizendo: O tempo está cumprido, e é chegado o reino de Deus. Arrependei-vos e crede no evangelho.
A vocação dos discípulos
16 E, andando junto do mar da Galileia, viu a
Simão, e a André, irmão de Simão, os quais
lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores.
17 Disse-lhes Jesus: Vinde após mim, e eu farei que vos torneis pescadores de homens.
18 Então eles, deixando imediatamente as suas redes, o seguiram.
19 E ele, passando um pouco adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e
João, seu irmão, que estavam no barco, consertando as
redes,
20 e logo os chamou; eles, deixando seu pai Zebedeu no barco com os empregados, o seguiram.
A cura de um endemoninhado em Cafarnaum
21 Entraram em Cafarnaum; e, logo no sábado, indo ele à sinagoga, pôs-se a ensinar.
22 E maravilhavam-se da sua doutrina, porque os ensinava como tendo autoridade e não como os escribas.
23 Ora, estava na sinagoga um homem possesso dum espírito imundo, o qual gritou:
24 Que temos nós contigo, Jesus, nazareno? Vieste destruir-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus.
25 Mas Jesus o repreendeu, dizendo: Cala-te e sai dele.
26 Então, o espírito imundo, convulsionando-o e clamando com grande voz, saiu dele.
27 E todos se maravilharam a ponto de perguntarem entre si, dizendo:
Que é isto? Uma nova doutrina com autoridade! Pois ele ordena
aos espíritos imundos e eles lhe obedecem!
28 E logo correu a sua fama por toda a região da Galileia.
A cura da sogra de Pedro
29 Em seguida, saiu da sinagoga e foi a casa de Simão e André com Tiago e João.
30 A sogra de Simão estava de cama com febre e logo lhe falaram a respeito dela.
31 Então Jesus, chegando-se e tomando-a pela mão, a levantou; e a febre a deixou, e ela os servia.
Muitas outras curas
32 Sendo já tarde, tendo-se posto o sol, traziam-lhe todos os enfermos e os endemoninhados;
33 e toda a cidade estava reunida à porta;
34 e ele curou muitos doentes atacados de diversas moléstias, e
expulsou muitos demônios; mas não permitia que os
demônios falassem, porque o conheciam.
Jesus se retira para orar
35 De madrugada, ainda bem escuro, levantou-se, saiu e foi a um lugar deserto, e ali orava.
36 Foram, pois, Simão e seus companheiros procurá-lo;
37 quando o encontraram, disseram-lhe: Todos te buscam.
38 Respondeu-lhes Jesus: Vamos a outras partes, às
povoações vizinhas, para que eu pregue ali também;
pois para isso é que vim.
39 Foi, então, por toda a Galileia, pregando nas sinagogas deles e expulsando os demônios.
A cura de um leproso
40 E veio a ele um leproso que, de joelhos, lhe rogava, dizendo: Se quiseres, bem podes tornar-me limpo.
41 Jesus, pois, compadecido dele, estendendo a mão, tocou-o e disse-lhe: Quero; sê limpo.
42 Imediatamente desapareceu dele a lepra e ficou limpo.
43 E Jesus, advertindo-o secretamente, logo o despediu,
44 dizendo-lhe: Olha, não digas nada a ninguém; mas vai,
mostra-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o
que Moisés determinou, para lhes servir de testemunho.
45 Ele, porém, saindo dali, começou a publicar o caso por
toda parte e a divulgá-lo, de modo que Jesus já
não podia entrar abertamente numa cidade, mas conservava-se
fora, em lugares desertos; e de todos os lados iam ter com ele.
A cura de um paralítico em Cafarnaum
2
Alguns dias depois, entrou Jesus outra vez em Cafarnaum e soube-se que ele estava em casa.
2 Ajuntaram-se, pois, muitos, a ponto de não caberem nem mesmo diante da porta; e ele lhes anunciava a palavra.
3 Nisso, vieram alguns a trazer-lhe um paralítico, carregado por quatro;
4 e não podendo aproximar-se dele, por causa da multidão,
descobriram o telhado onde estava e, fazendo uma abertura, baixaram o
leito em que jazia o paralítico.
5 E Jesus, vendo-lhes a fé, disse ao paralítico: Filho, perdoados são os teus pecados.
6 Ora, estavam ali sentados alguns dos escribas, que arrazoavam em seus corações, dizendo:
7 Por que fala assim este homem? Ele blasfema. Quem pode perdoar pecados senão um só, que é Deus?
8 Mas Jesus logo percebeu em seu espírito que eles assim
arrazoavam dentro de si e perguntou-lhes: Por que arrazoais desse modo
em vossos corações?
9 Qual é mais fácil? Dizer ao paralítico:
Perdoados são os teus pecados; ou dizer: Levanta-te, toma o teu
leito, e anda?
10 Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados (disse ao paralítico),
11 a ti te digo, levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa.
12 Então, ele se levantou e, tomando logo o leito, saiu à
vista de todos; de modo que todos pasmavam e glorificavam a Deus,
dizendo: Nunca vimos coisa semelhante.
A vocação de Levi
13 Outra vez saiu Jesus para a beira do mar; e toda a multidão ia ter com ele, e ele os ensinava.
14 Quando ia passando, viu a Levi, filho de Alfeu, sentado na coletoria, e disse-lhe: Segue-me. E ele, levantando-se, o seguiu.
Jesus come com pecadores
15 Ora, estando Jesus à mesa em casa de Levi,
estavam também ali reclinados com ele e seus discípulos
muitos publicanos e pecadores; pois eram em grande número e o
seguiam.
16 Vendo os escribas dos fariseus que comia com os publicanos e
pecadores, perguntavam aos discípulos: Por que é que ele
come com os publicanos e pecadores?
17 Jesus, porém, ouvindo isso, disse-lhes: Não necessitam
de médico os sãos, mas sim os enfermos; eu não vim
chamar justos, mas pecadores.
Do jejum
18 Ora, os discípulos de João e os
fariseus estavam jejuando; e foram perguntar-lhe: Por que jejuam os
discípulos de João e os dos fariseus, mas os teus
discípulos não jejuam?
19 Respondeu-lhes Jesus: Podem, porventura, jejuar os convidados
às núpcias, enquanto está com eles o noivo?
Enquanto têm consigo o noivo não podem jejuar;
20 dias virão, porém, em que lhes será tirado o noivo; nesses dias, sim, hão de jejuar.
21 Ninguém cose remendo de pano novo em vestido velho; do
contrário o remendo novo tira parte do velho e torna-se maior a
rotura.
22 E ninguém deita vinho novo em odres velhos; do
contrário, o vinho novo romperá os odres e
perder-se-á o vinho e também os odres; mas deita-se vinho
novo em odres novos.
Jesus é Senhor do sábado
23 E sucedeu passar ele num dia de sábado pelas
searas; e os seus discípulos, caminhando, começaram a
colher espigas.
24 E os fariseus lhe perguntaram: Olha, por que estão fazendo no sábado o que não é lícito?
25 Respondeu-lhes ele: Acaso nunca lestes o que fez Davi quando se viu em necessidade e teve fome, ele e seus companheiros?
26 Como entrou na casa de Deus, no tempo do sumo sacerdote Abiatar, e
comeu dos pães da proposição, dos quais não
era lícito comer, senão aos sacerdotes, e deu
também aos companheiros?
27 E prosseguiu: O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado.
28 Pelo que o Filho do Homem até do sábado é Senhor.
O homem da mão ressequida
3
Outra vez, entrou numa sinagoga e estava ali um homem que tinha uma das mãos
ressequida.
2 E observavam-no para ver se no sábado curaria o homem, a fim de o acusarem.
3 E disse Jesus ao homem que tinha a mão atrofiada: Levanta-te e vem para o meio.
4 Então, lhes perguntou: É lícito no sábado
fazer bem, ou fazer mal? Salvar a vida ou matar? Eles, porém, se
calaram.
5 E olhando em redor para eles com indignação,
condoendo-se da dureza dos seus corações, disse ao homem:
Estende a tua mão. Ele estendeu, e lhe foi restabelecida.
6 E os fariseus, saindo dali, entraram logo em conselho com os herodianos contra ele, para o matarem.
Jesus se retira.
A cura de muitos à beira-mar
7 Jesus, porém, se retirou com os seus
discípulos para a beira do mar; e uma grande multidão dos
da Galileia o seguiu; também da Judeia,
8 e de Jerusalém, da Idumeia e de além do Jordão,
e das regiões de Tiro e de Sidom, grandes multidões,
ouvindo falar de tudo quanto fazia, vieram ter com ele.
9 Recomendou, pois, a seus discípulos que se lhe preparasse um
barquinho, por causa da multidão, para que não o
apertasse;
10 porque tinha curado a muitos, de modo que todos quantos tinham algum mal arrojavam-se a ele para lhe tocarem.
11 E os espíritos imundos, quando o viam, prostravam-se diante dele e clamavam, dizendo: Tu és o Filho de Deus.
12 E ele lhes advertia com insistência que não o dessem a conhecer.
A escolha dos doze apóstolos.
Os seus nomes
13 Depois, subiu ao monte e chamou a si os que ele mesmo queria; e vieram a ele.
14 Então, designou doze para que estivessem com ele e os mandasse a pregar;
15 e para que tivessem autoridade de expulsar os demônios.
16 Designou, pois, os doze, a saber: Simão, a quem pôs o nome de Pedro;
17 Tiago, filho de Zebedeu, e João, irmão de Tiago, aos
quais pôs o nome de Boanerges, que significa: Filhos do
trovão;
18 André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão, o cananeu,
19 e Judas Iscariotes, aquele que o traiu.
A blasfêmia dos escribas
20 Depois, entrou numa casa. E afluiu outra vez a multidão, de tal modo que nem podiam comer.
21 Quando os seus ouviram isso, saíram para o prender; porque diziam: Ele está fora de si.
22 E os escribas que tinham descido de Jerusalém, diziam: Ele
está possesso de Belzebu; e: É pelo príncipe dos
demônios que expulsa os demônios.
23 Então, Jesus os chamou e lhes disse por parábolas: Como pode Satanás expulsar Satanás?
24 Pois, se um reino se dividir contra si mesmo, tal reino não pode subsistir;
25 ou, se uma casa se dividir contra si mesma, tal casa não poderá subsistir;
26 e se Satanás se tem levantado contra si mesmo, e está
dividido, tão pouco pode ele subsistir; antes tem fim.
27 Pois ninguém pode entrar na casa do valente e roubar-lhe os
bens, se primeiro não amarrar o valente; e então lhe
saqueará a casa.
28 Em verdade vos digo: Todos os pecados serão perdoados aos
filhos dos homens, bem como todas as blasfêmias que proferirem;
29 mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo, nunca mais
terá perdão, mas será réu de pecado eterno.
30 Porquanto eles diziam: Está possesso de um espírito imundo.
A família de Jesus
31 Chegaram, então, sua mãe e seus irmãos e, ficando da parte de fora, mandaram chamá-lo.
32 E a multidão estava sentada ao redor dele, e disseram-lhe:
Eis que tua mãe e teus irmãos estão lá fora
e te procuram.
33 Respondeu-lhes Jesus, dizendo: Quem é minha mãe e meus irmãos?
34 E olhando em redor para os que estavam sentados à roda de si, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos!
35 Pois aquele que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe.
A parábola do semeador
4 Outra vez começou a ensinar
à beira do mar. E reuniu-se a ele tão grande
multidão que ele entrou num barco e sentou-se nele, sobre o mar;
e todo o povo estava em terra junto do mar.
2 Então, lhes ensinava muitas coisas por parábolas e lhes dizia no seu ensino:
3 Ouvi: Eis que o semeador saiu a semear;
4 e aconteceu que, quando semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho, e vieram as aves e a comeram.
5 Outra caiu no solo pedregoso, onde não havia muita terra; e logo nasceu, porque não tinha terra profunda;
6 mas, saindo o sol, queimou-se; e, porque não tinha raiz, secou-se.
7 E outra caiu entre espinhos; e cresceram os espinhos, e a sufocaram; e não deu fruto.
8 Mas outras caíram em boa terra e, vingando e crescendo, davam
fruto; e um grão produzia trinta, outro sessenta, e outro cem.
9 E disse-lhes: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
A explicação da parábola
10 Quando se achou só, os que estavam ao redor dele, com os doze, interrogaram-no acerca da parábola.
11 E ele lhes disse: A vós é confiado o mistério
do reino de Deus, mas aos de fora tudo se lhes diz por parábolas;
12 para que vendo, vejam, e não percebam; e ouvindo,
ouçam, e não entendam; para que não se convertam e
sejam perdoados.
13 Disse-lhes ainda: Não percebeis esta parábola? Como, pois, entendereis todas as parábolas?
14 O semeador semeia a palavra.
15 E os que estão junto do caminho são aqueles em quem a
palavra é semeada; mas, tendo-a eles ouvido, vem logo
Satanás e tira a palavra que neles foi semeada.
16 Do mesmo modo, aqueles que foram semeados nos lugares pedregosos
são os que, ouvindo a palavra, imediatamente com alegria a
recebem;
17 mas não têm raiz em si mesmos, antes são de
pouca duração; depois, sobrevindo
tribulação ou perseguição por causa da
palavra, logo se escandalizam.
18 Outros ainda são aqueles que foram semeados entre os espinhos; estes são os que ouvem a palavra;
19 mas os cuidados do mundo, a sedução das riquezas e a
cobiça doutras coisas, entrando, sufocam a palavra, e ela fica
infrutífera.
20 Aqueles outros que foram semeados em boa terra são os que
ouvem a palavra e a recebem, e dão fruto, a trinta, a sessenta,
e a cem por um.
A parábola da candeia
21 Disse-lhes mais: Vem porventura a candeia para se meter debaixo do alqueire, ou debaixo da cama?
Não é antes para se colocar no velador?
22 Porque nada está encoberto, senão para ser manifesto; e nada foi escondido, senão para vir à luz.
23 Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça.
24 Também lhes disse: Atendei ao que ouvis. Com a medida com que
medis vos medirão a vós, e ainda se vos
acrescentará.
25 Pois ao que tem, ser-lhe-á dado; e ao que não tem, até aquilo que tem ser-lhe-á tirado.
A parábola da semente
26 Disse também: O reino de Deus é assim como se um homem lançasse semente à terra,
27 e dormisse e se levantasse de noite e de dia, e a semente brotasse e crescesse, sem ele saber como.
28 A terra por si mesma produz fruto, primeiro a erva, depois a espiga, e por último o grão cheio na espiga.
29 Mas assim que o fruto amadurecer, logo lhe mete a foice, porque é chegada a ceifa.
A parábola do grão de mostarda
30 Disse ainda: A que assemelharemos o reino de Deus? Ou com que parábola o representaremos?
31 É como um grão de mostarda que, quando se semeia, é a menor de todas as sementes que há na terra;
32 mas, tendo sido semeado, cresce e faz-se a maior de todas as
hortaliças e cria grandes ramos, de tal modo que as aves do
céu podem aninhar-se à sua sombra.
Porque Jesus falou por parábolas
33 E com muitas parábolas tais lhes dirigia a palavra, conforme podiam compreender.
34 E sem parábola não lhes falava; mas em particular explicava tudo a seus discípulos.
Jesus acalma uma tempestade
35 Naquele dia, quando já era tarde, disse-lhes: Passemos para o outro lado.
36 E eles, deixando a multidão, o levaram consigo, assim como
estava, no barco; e havia com ele também outros barcos.
37 E se levantou grande tempestade de vento, e as ondas batiam dentro do barco, de modo que já se enchia.
38 Ele, porém, estava na popa dormindo sobre a almofada; e
despertaram-no, e lhe perguntaram: Mestre, não se te dá
que pereçamos?
39 E ele, levantando-se, repreendeu o vento, e disse ao mar: Cala-te,
aquieta-te. E cessou o vento, e fez-se grande bonança.
40 Então, lhes perguntou: Por que sois assim tímidos? Ainda não tendes fé?
41 Encheram-se de grande temor e diziam uns aos outros: Quem,
porventura, é este, que até o vento e o mar lhe obedecem?
A cura do endemoninhado geraseno
5
Chegaram, então, ao outro lado do mar, à terra dos gerasenos.
2 E, logo que Jesus saíra do barco, lhe veio ao encontro, dos sepulcros, um homem com espírito imundo,
3 o qual tinha a sua morada nos sepulcros; e nem ainda com cadeias podia alguém prendê-lo;
4 porque, tendo sido muitas vezes preso com grilhões e cadeias,
as cadeias foram por ele feitas em pedaços, e os grilhões
em migalhas; e ninguém o podia domar;
5 e sempre, de dia e de noite, andava pelos sepulcros e pelos montes, gritando, e ferindo-se com pedras,
6 Vendo, pois, de longe a Jesus, correu e adorou-o;
7 e, clamando com grande voz, disse: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo?
Conjuro-te por Deus que não me atormentes.
8 Pois Jesus lhe dizia: Sai desse homem, espírito imundo.
9 E perguntou-lhe: Qual é o teu nome? Respondeu-lhe ele: Legião é o meu nome, porque somos muitos.
10 E rogava-lhe muito que não os enviasse para fora da região.
11 Ora, andava ali pastando no monte uma grande manada de porcos.
12 Rogaram-lhe, pois, os demônios, dizendo: Manda-nos para aqueles porcos, para que entremos neles.
13 E ele lho permitiu. Saindo, então, os espíritos
imundos, entraram nos porcos; e precipitou-se a manada, que era de uns
dois mil, pelo despenhadeiro no mar, onde todos se afogaram.
14 Nisso, fugiram aqueles que os apascentavam e o anunciaram na cidade e nos campos.
Os gerasenos rejeitam a Jesus
E muitos foram ver o que era aquilo que tinha acontecido.
15 Chegando-se a Jesus, viram o endemoninhado, o que tivera a
legião, sentado, vestido e em perfeito juízo; e temeram.
16 Os que tinham visto aquilo contaram-lhes como havia acontecido ao endemoninhado e acerca dos porcos.
17 Então, começaram a rogar-lhe que se retirasse dos seus termos.
18 E, entrando ele no barco, rogava-lhe o que fora endemoninhado que o deixasse estar com ele.
19 Jesus, porém, não lho permitiu, mas disse-lhe: Vai
para tua casa, para os teus, e anuncia-lhes o quanto o Senhor te fez, e
como teve misericórdia de ti.
20 Ele se retirou, pois, e começou a publicar em Decápolis tudo quanto lhe fizera Jesus; e todos se admiravam.
O pedido de Jairo
21 Tendo Jesus passado de novo no barco para o outro
lado, ajuntou-se a ele uma grande multidão; e ele estava
à beira do mar.
22 Chegou um dos chefes da sinagoga, chamado Jairo e, logo que viu a Jesus, lançou-se-lhe aos pés.
23 E, com insistência, lhe rogava, dizendo: Minha filhinha
está nas últimas; rogo-te que venhas e lhe imponhas as
mãos para que sare e viva.
24 Jesus foi com ele.
A cura de uma mulher enferma
E seguia-o uma grande multidão, que o apertava.
25 Ora, certa mulher, que havia doze anos padecia de uma hemorragia,
26 e que tinha sofrido bastante às mãos de muitos
médicos, e despendido tudo quanto possuía, sem nada
aproveitar, antes indo a pior,
27 tendo ouvido falar a respeito de Jesus, veio por detrás, entre a multidão, e tocou-lhe o manto;
28 porque dizia: Se tão-somente tocar-lhe as vestes, ficaria curada.
29 E imediatamente cessou a sua hemorragia; e sentiu no corpo estar já curada do seu mal.
30 E logo, Jesus, percebendo em si mesmo que saíra dele poder,
virou-se no meio da multidão e perguntou: Quem me tocou as
vestes?
31 Responderam-lhe os seus discípulos: Vês que a multidão te aperta, e perguntas: Quem me tocou?
32 Mas ele olhava em redor para ver a que isto fizera.
33 Então, a mulher, atemorizada e trêmula, cônscia
do que nela se havia operado, veio, prostrou-se diante dele e
declarou-lhe toda a verdade.
34 Disse-lhe ele: Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz e fica livre desse teu mal.
A ressurreição da filha de Jairo
35 Enquanto ele ainda falava, chegaram pessoas da casa
do chefe da sinagoga, a quem disseram: A tua filha já morreu;
por que ainda incomodas o Mestre?
36 O que percebendo Jesus, disse ao chefe da sinagoga: Não temas, crê somente.
37 E não permitiu que ninguém o acompanhasse, senão Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago.
38 Quando chegaram a casa do chefe da sinagoga, viu Jesus um alvoroço, os que choravam e faziam grande pranto.
39 E, entrando, disse-lhes: Por que fazeis alvoroço e chorais? A menina não morreu, mas dorme.
40 E riam-se dele; porém ele, tendo feito sair a todos, tomou
consigo o pai e a mãe da menina, os que com ele vieram e entrou
onde a menina estava.
41 E, tomando a mão da menina, disse-lhe: Talita cumi, que traduzido é: Menina, a ti te digo, levanta-te.
42 Imediatamente, a menina se levantou e pôs-se a andar, pois tinha doze anos. E logo foram tomados de grande espanto.
43 Então, ordenou-lhes expressamente que ninguém o soubesse; e mandou que lhe dessem de comer.
Jesus prega em Nazaré.
É rejeitado pelos seus
6
Saiu Jesus dali, e foi para a sua terra, e os seus discípulos o seguiam.
2 Ora, chegando o sábado, começou a ensinar na sinagoga;
e muitos, ao ouví-lo, se maravilhavam, dizendo: Donde lhe
vêm estas coisas? E que sabedoria é esta que lhe é
dada? E como se fazem tais milagres por suas mãos?
3 Não é este o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão?
E não estão aqui entre nós suas irmãs? E escandalizavam-se dele.
4 Então, Jesus lhes dizia: Um profeta não fica sem honra
senão na sua terra, entre os seus parentes e na sua
própria casa.
5 E não podia fazer ali nenhum milagre, a não ser curar alguns poucos enfermos, impondo-lhes as mãos.
6 E admirou-se da incredulidade deles. Em seguida, percorria as aldeias circunvizinhas, ensinando.
As instruções para os doze
7 Chamou a si os doze e começou a enviá-los a dois e dois; e dava-lhes poder sobre os espíritos imundos;
8 ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, senão apenas um
bordão; nem pão, nem alforje, nem dinheiro no cinto;
9 mas que fossem calçados de sandálias e que não vestissem duas túnicas.
10 Dizia-lhes mais: Onde quer que entrardes numa casa, ficai nela até sairdes daquele lugar.
11 E se qualquer lugar não vos receber, nem os homens vos
ouvirem, saindo dali, sacudi o pó que estiver debaixo dos vossos
pés, em testemunho conta eles.
12 Então, saíram e pregaram que todos se arrependessem;
13 expulsavam muitos demônios e ungiam muitos enfermos com óleo, e os curavam.
A morte de João, o Batista
14 E soube disso o rei Herodes (porque o nome de Jesus
se tornara célebre), e disse: João, o Batista,
ressuscitou dos mortos; e por isso estes poderes milagrosos operam nele.
15 Mas outros diziam: É Elias. E ainda outros diziam: É profeta como um dos profetas.
16 Herodes, porém, ouvindo isso, dizia: É João, aquele a quem eu mandei degolar; ele ressuscitou.
17 Porquanto o próprio Herodes mandara prender a João e
encerrá-lo atado no cárcere, por causa de Herodias,
mulher de seu irmão Filipe; porque ele se havia casado com ela.
18 Pois João dizia a Herodes: Não te é lícito ter a mulher de teu irmão.
19 Por isso Herodias lhe guardava rancor e queria matá-lo, mas não podia;
20 porque Herodes temia a João, sabendo que era varão
justo e santo, e o guardava em segurança; e, ao ouvi-lo, ficava
muito perplexo, contudo de boa mente o escutava.
21 Chegado, porém, um dia oportuno, quando Herodes, no seu
aniversário natalício, ofereceu um banquete aos grandes
da sua corte, aos principais da Galileia,
22 entrou a filha da mesma Herodias e, dançando, agradou a
Herodes e aos convivas. Então, o rei disse à jovem:
Pede-me o que quiseres e eu to darei.
23 E jurou-lhe, dizendo: Tudo o que me pedires te darei, ainda que seja metade do meu reino.
24 Tendo ela saído, perguntou a sua mãe: Que pedirei? Ela respondeu: A cabeça de João, o Batista.
25 E tornando logo com pressa à presença do rei, pediu,
dizendo: Quero que imediatamente me dês num prato a cabeça
de João, o Batista.
26 Ora, entristeceu-se muito o rei; todavia, por causa dos seus
juramentos e por causa dos que estavam à mesa, não lha
quis negar.
27 O rei, pois, enviou logo um soldado da sua guarda com ordem de
trazer a cabeça de João. Então, ele foi e o
degolou no cárcere,
28 e trouxe a cabeça num prato e a deu à jovem, e a jovem a deu à sua mãe.
29 Quando os seus discípulos ouviram isso, vieram, tomaram o seu corpo e o puseram num sepulcro.
A primeira multiplicação de pães e peixes
30 Reuniram-se os apóstolos com Jesus e contaram-lhe tudo o que tinham feito e ensinado.
31 Ao que ele lhes disse: Vinde vós, à parte, para um
lugar deserto, e descansai um pouco. Porque eram muitos os que vinham e
iam, e não tinham tempo nem para comer.
32 Retiraram-se, pois, no barco para um lugar deserto, à parte.
33 Muitos, porém, os viram partir e os reconheceram; para
lá correram a pé de todas as cidades e ali chegaram
primeiro do que eles.
34 E Jesus, ao desembarcar, viu uma grande multidão e
compadeceu-se deles, porque eram como ovelhas que não têm
pastor; e começou a ensinar-lhes muitas coisas.
35 Estando a hora já muito adiantada, aproximaram-se dele seus
discípulos e disseram: O lugar é deserto, e a hora
já está muito adiantada;
36 despede-os, para que vão aos sítios e às aldeias, em redor, e comprem para si o que comer.
37 Ele, porém, lhes respondeu: Dai-lhes vós de comer.
Então, eles lhe perguntaram: Havemos de ir comprar duzentos
denários de pão e dar-lhes de comer?
38 Ao que ele lhes disse: Quantos pães tendes? Ide ver. E,
tendo-se informado, responderam: Cinco pães e dois peixes.
39 Então, lhes ordenou que a todos fizessem reclinar-se, em grupos, sobre a relva verde.
40 E reclinaram-se em grupos de cem e de cinquenta.
41 Tomando os cinco pães e os dois peixes e erguendo os olhos ao
céu, os abençoou; partiu os pães e os entregava a
seus discípulos para lhos servirem; também repartiu os
dois peixes por todos.
42 E todos comeram e se fartaram.
43 Em seguida, recolheram doze cestos cheios dos pedaços de pão e de peixe.
44 Ora, os que comeram os pães eram cinco mil homens.
Jesus anda sobre o mar
45 Logo em seguida, obrigou os seus discípulos
a entrar no barco e passar adiante, para o outro lado, a Betsaida,
enquanto ele despedia a multidão.
46 E, tendo-a despedido, foi ao monte para orar.
47 Chegada a tardinha, estava o barco no meio do mar, e ele sozinho em terra.
48 E, vendo-os fatigados a remar, porque o vento lhes era
contrário, pela quarta vigília da noite, foi ter com
eles, andando sobre o mar; e queria passar-lhes adiante;
49 eles, porém, ao vê-lo andando sobre o mar, pensaram que era um fantasma e gritaram;
50 porque todos o viram e se assustaram; mas ele imediatamente falou
com eles e disse-lhes: Tende ânimo; sou eu; não temais.
51 Subiu para junto deles no barco e o vento cessou; e ficaram, no seu íntimo, grandemente pasmados;
52 pois não tinham compreendido o milagre dos pães; antes, o seu coração estava endurecido.
Jesus em Genesaré
53 E, terminada a travessia, chegaram à terra em Genezaré, e ali atracaram.
54 Logo que desembarcaram, o povo reconheceu a Jesus;
55 e correndo eles por toda aquela região, começaram a
levar nos leitos os que se achavam enfermos, para onde ouviam dizer que
ele estava.
56 Onde quer, pois, que entrava, fosse nas aldeias, nas cidades ou nos
campos, apresentavam os enfermos nas praças e rogavam-lhe que os
deixasse tocar ao menos a orla do seu manto; e todos os que a tocavam
ficavam curados.
Jesus e a tradição dos anciãos.
O que contamina o
homem
7
Foram ter com Jesus os fariseus e alguns dos escribas, vindos de Jerusalém,
2 e repararam que alguns dos seus discípulos comiam pão com as mãos impuras, isto é, por lavar.
3 Pois os fariseus, e todos os judeus, guardando a
tradição dos anciãos, não comem sem lavar
as mãos cuidadosamente;
4 e quando voltam do mercado, se não se purificarem, não
comem. E muitas outras coisas há que receberam para observar,
como a lavagem de copos, de jarros e de vasos de bronze.
5 Perguntaram-lhe, pois, os fariseus e os escribas: Por que não
andam os teus discípulos conforme a tradição dos
anciãos, mas comem o pão com as mãos por lavar?
6 Respondeu-lhes: Bem profetizou Isaías acerca de vós,
hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os
lábios; o seu coração, porém, está
longe de mim;
7 mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens.
8 Vós deixais o mandamento de Deus e vos apegais à tradição dos homens.
9 Disse-lhes ainda: Bem sabeis rejeitar o mandamento de Deus, para guardardes a vossa tradição.
10 Pois Moisés disse: Honra a teu pai e a tua mãe; e:
Quem maldisser ao pai ou à mãe, certamente morrerá.
11 Mas vós dizeis: Se um homem disser a seu pai ou a sua
mãe: Aquilo que poderias aproveitar de mim é
Corbã, isto é, oferta ao Senhor,
12 não mais lhe permitis fazer coisa alguma por seu pai ou por sua mãe,
13 invalidando assim a palavra de Deus pela vossa
tradição que vós transmitistes; também
muitas outras coisas semelhantes fazeis.
14 E chamando a si outra vez a multidão, disse-lhes: Ouvi-me vós todos, e entendei.
15 Nada há fora do homem que, entrando nele, possa
contaminá-lo; mas o que sai do homem, isso é que o
contamina.
16 [Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça.]
17 Depois, quando deixou a multidão e entrou em casa, os seus discípulos o interrogaram acerca da parábola.
18 Respondeu-lhes ele: Assim também vós estais sem
entender? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem
não o pode contaminar,
19 porque não lhe entra no coração, mas no ventre,
e é lançado fora? Assim declarou puros todos os alimentos.
20 E prosseguiu: O que sai do homem, isso é que o contamina.
21 Pois é do interior, do coração dos homens, que
procedem os maus pensamentos, as prostituições, os
furtos, os homicídios, os adultérios,
22 a cobiça, as maldades, o dolo, a libertinagem, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a insensatez;
23 todas estas más coisas procedem de dentro e contaminam o homem.
A mulher siro-fenícia
24 Levantando-se dali, foi para as regiões de
Tiro e Sidom. E entrando numa casa, não queria que
ninguém o soubesse, mas não pode ocultar-se;
25 porque logo certa mulher, cuja filha estava possessa de um
espírito imundo, ouvindo falar dele, veio e prostrou-se-lhe aos
pés;
26 (ora, a mulher era grega, de origem siro-fenícia) e rogava-lhe que expulsasse de sua filha o demônio.
27 Respondeu-lhe Jesus: Deixa que primeiro se fartem os filhos; porque
não é bom tomar o pão dos filhos e
lançá-lo aos cachorrinhos.
28 Ela, porém, replicou, e disse-lhe: Sim, Senhor; mas
também os cachorrinhos debaixo da mesa comem das migalhas dos
filhos.
29 Então, ele lhe disse: Por essa palavra, vai; o demônio já saiu de tua filha.
30 E, voltando ela para casa, achou a menina deitada sobre a cama, e que o demônio já havia saído.
A cura de um surdo e gago
31 Tendo Jesus partido das regiões de Tiro, foi
por Sidom até o mar da Galileia, passando pelas regiões
de Decápolis.
32 E trouxeram-lhe um surdo, que falava dificilmente; e rogaram-lhe que pusesse a mão sobre ele.
33 Jesus, pois, tirou-o de entre a multidão, à parte,
meteu-lhe os dedos nos ouvidos e, cuspindo, tocou-lhe na língua;
34 e erguendo os olhos ao céu, suspirou e disse-lhe: Efatá; isto é: Abre-te.
35 Abriram-se-lhe os ouvidos, a prisão da língua se desfez e falava perfeitamente.
36 Então, lhes ordenou Jesus que a ninguém o dissessem; mas, quando mais lho proibia, tanto mais o divulgavam.
37 E se maravilhavam sobremaneira, dizendo: Tudo tem feito bem; faz até os surdos ouvir e os mudos falar.
A segunda multiplicação de pães e peixes
8 Naqueles dias, havendo de novo uma
grande multidão, e não tendo o que comer, chamou Jesus os
discípulos e disse-lhes:
2 Tenho compaixão da multidão, porque já faz
três dias que eles estão comigo e não têm o
que comer.
3 Se eu os mandar em jejum para suas casas, desfalecerão no caminho; e alguns deles vieram de longe.
4 E seus discípulos lhe responderam: Donde poderá alguém satisfazê-los de pão aqui no deserto?
5 Perguntou-lhes Jesus: Quantos pães tendes? Responderam: Sete.
6 Logo mandou ao povo que se sentasse no chão; e tomando os sete
pães e havendo dado graças, partiu-os e os entregava a
seus discípulos para que os distribuíssem; e eles os
distribuíram pela multidão.
7 Tinham também alguns peixinhos, os quais ele abençoou,
e mandou que estes também fossem distribuídos.
8 Comeram, pois, e se fartaram; e dos pedaços que sobejavam levantaram sete alcofas.
9 Ora, eram cerca de quatro mil homens. E Jesus os despediu.
10 E, entrando logo no barco com seus discípulos, foi para as regiões de Dalmanuta.
Os fariseus pedem um sinal do céu
11 Saíram os fariseus e começaram a discutir com ele, pedindo-lhe um sinal do céu, para o experimentarem.
12 Ele, suspirando profundamente em seu espírito, disse: Por que
pede esta geração um sinal? Em verdade vos digo que a
esta geração não será dado sinal algum.
13 E, deixando-os, tornou a embarcar e foi para o outro lado.
O fermento dos fariseus e o de Herodes
14 Ora, eles se esqueceram de levar pão e, no barco, não tinham consigo senão um pão.
15 E Jesus ordenou-lhes, dizendo: Olhai, guardai-vos do fermento dos fariseus e do fermento de Herodes.
16 Pelo que eles arrazoavam entre si porque não tinham pão.
17 E Jesus, percebendo isso, disse-lhes: Por que arrazoais por
não terdes pão? Não compreendeis ainda, nem
entendeis? Tendes o vosso coração endurecido?
18 Tendo olhos, não vedes? E tendo ouvidos, não ouvis? E não vos lembrais?
19 Quando parti os cinco pães para os cinco mil, quantos cestos
cheios de pedaços levantastes? Responderam-lhe: Doze.
20 E quando parti os sete para os quatro mil, quantas alcofas cheias de pedaços levantastes? Responderam-lhe: Sete.
21 E ele lhes disse: Não entendeis ainda?
A cura de um cego em Betsaida
22 Então, chegaram a Betsaida. E trouxeram-lhe um cego, e rogaram-lhe que o tocasse.
23 Jesus, pois, tomou o cego pela mão e o levou para fora da
aldeia; cuspindo-lhe nos olhos e impondo-lhe as mãos,
perguntou-lhe: Vês alguma coisa?
24 E, levantando ele os olhos, disse: Estou vendo os homens; porque como árvores os vejo andando.
25 Então, tornou a pôr-lhe as mãos sobre os olhos;
e ele, olhando atentamente, ficou restabelecido, pois já via
nitidamente todas as coisas.
26 Depois o mandou para casa, dizendo: Não entres na aldeia.
A confissão de Pedro
27 E saiu Jesus com os seus discípulos para as
aldeias de Cesareia de Filipe, e no caminho interrogou os
discípulos, dizendo: Quem dizem os homens que eu sou?
28 Responderam-lhe eles: Uns dizem: João, o Batista; outros: Elias; e ainda outros: Algum dos profetas.
29 Então, lhes perguntou: Mas vós, quem dizeis que eu sou? Respondendo, Pedro lhe disse: Tu és o Cristo.
30 E ordenou-lhes Jesus que a ninguém dissessem aquilo a respeito dele.
Jesus prediz a sua morte e ressurreição
31 Começou, então, a ensinar-lhes que
era necessário que o Filho do Homem padecesse muitas coisas, que
fosse rejeitado pelos anciãos e principais sacerdotes e pelos
escribas, que fosse morto e que, depois de três dias, ressurgisse.
32 E isso dizia abertamente. Ao que Pedro, tomando-o à parte, começou a repreendê-lo.
33 Mas ele, virando-se e, olhando para seus discípulos,
repreendeu a Pedro, dizendo: Para trás de mim, Satanás;
porque não cuidas das coisas que são de Deus, mas sim das
que são dos homens.
O discípulo de Jesus deve levar a sua cruz
34 E chamando a si a multidão com os
discípulos, disse-lhes: Se alguém quer vir após
mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.
35 Pois quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas
quem perder a sua vida por amor de mim e do evangelho,
salvá-la-á.
36 Pois, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida?
37 Ou que daria o homem em troca da sua vida?
38 Porquanto, qualquer que, entre esta geração
adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e das minhas
palavras, também dele se envergonhará o Filho do Homem
quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos.
9 Disse-lhes mais: Em
verdade vos digo que, dos que aqui estão, alguns há que
de modo nenhum provarão a morte até que vejam o reino de
Deus já chegando com poder.
A transfiguração
2 Seis dias depois, tomou Jesus consigo a Pedro, a
Tiago e a João e os levou sós, à parte, a um alto
monte; e foi transfigurado diante deles;
3 as suas vestes tornaram-se resplandecentes, extremamente brancas,
tais como nenhum lavandeiro sobre a terra as poderia branquear.
4 E apareceu-lhes Elias com Moisés, e falavam com Jesus.
5 Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus: Mestre, bom é
estarmos aqui; faça-mos, pois, três cabanas, uma para ti,
outra para Moisés, e outra, para Elias.
6 Pois não sabia o que havia de dizer, porque ficaram atemorizados.
7 Nisto, veio uma nuvem que os cobriu, e dela saiu uma voz que dizia: Este é o meu Filho amado; a ele ouvi.
8 De repente, tendo olhado em redor, não viram mais a ninguém consigo, senão só a Jesus.
A vinda de Elias
9 Enquanto desciam do monte, ordenou-lhes que a ninguém contassem o que tinham visto, até que o
Filho do Homem ressurgisse dentre os mortos.
10 E eles guardaram o caso em segredo, indagando entre si o que seria o ressurgir dentre os mortos.
11 Então, lhe perguntaram: Por que dizem os escribas que é necessário que Elias venha primeiro?
12 Respondeu-lhes Jesus: Na verdade, Elias havia de vir primeiro, a
restaurar todas as coisas; e como é que está escrito
acerca do Filho do Homem que ele deva padecer muito e ser aviltado?
13 Digo-vos, porém, que Elias já veio, e fizeram-lhe tudo quanto quiseram, como dele está escrito.
A cura de um jovem possesso
14 Quando chegaram aonde estavam os discípulos,
viram ao redor deles uma grande multidão e alguns escribas a
discutirem com eles.
15 E logo toda a multidão, vendo a Jesus, ficou grandemente surpreendida; e, correndo todos para ele, o saudavam.
16 Perguntou ele aos escribas: Que é que discutis com eles?
17 Respondeu-lhe um dentre a multidão: Mestre, eu te trouxe meu filho, que tem um espírito mudo;
18 e este, onde quer que o apanha, convulsiona-o, de modo que ele
espuma, range os dentes, e vai definhando; e eu pedi aos teus
discípulos que o expulsassem, e não puderam.
19 Ao que Jesus lhes respondeu: Ó geração incrédula! Até quando estarei convosco?
Até quando vos hei de suportar? Trazei-mo.
20 Então, lho trouxeram; e quando ele viu a Jesus, o
espírito imediatamente o convulsionou; e o endemoninhado, caindo
por terra, revolvia-se espumando.
21 E perguntou Jesus ao pai dele: Há quanto tempo sucede-lhe isto? Respondeu ele: Desde a infância;
22 e muitas vezes o tem lançado no fogo e na água, para o
matar; mas se podes fazer alguma coisa, tem compaixão de
nós e ajuda-nos.
23 Ao que lhe disse Jesus: Se podes! Tudo é possível ao que crê.
24 Imediatamente o pai do menino, clamando, [com lágrimas] disse: Creio! Ajuda a minha incredulidade.
25 E Jesus, vendo que a multidão, correndo, se aglomerava,
repreendeu o espírito imundo, dizendo: Espírito mudo e
surdo, eu te ordeno: Sai dele e nunca mais entres nele.
26 E ele, gritando e agitando-o muito, saiu; e ficou o menino como morto, de modo que a maior parte dizia: Morreu.
27 Mas Jesus, tomando-o pela mão, o ergueu; e ele ficou em pé.
28 E quando entrou em casa, seus discípulos lhe perguntaram
à parte: Por que não pudemos nós expulsá-lo?
29 Respondeu-lhes: Esta casta não sai de modo algum, salvo à força de oração [e jejum].
De novo Jesus prediz a sua morte e ressurreição
30 Depois, tendo partido dali, passavam pela Galileia, e ele não queria que ninguém o soubesse;
31 porque ensinava a seus discípulos, e lhes dizia: O Filho do
Homem será entregue nas mãos dos homens, que o
matarão; e morto ele, depois de três dias
ressurgirá.
32 Mas eles não entendiam esta palavra e temiam interrogá-lo.
O maior no reino dos céus
33 Chegaram a Cafarnaum. E estando ele em casa, perguntou-lhes: Que estáveis discutindo pelo caminho?
34 Mas eles se calaram, porque pelo caminho haviam discutido entre si qual deles era o maior.
35 E ele, sentando-se, chamou os doze e lhes disse: Se alguém
quiser ser o primeiro, será o derradeiro de todos e o servo de
todos.
36 Então, tomou uma criança, pô-la no meio deles e, abraçando-a, disse-lhes:
37 Qualquer que em meu nome receber uma destas crianças, a mim
me recebe; e qualquer que me recebe a mim, recebe não a mim, mas
àquele que me enviou.
Jesus ensina a tolerância e a caridade
38 Disse-lhe João: Mestre, vimos um homem que
em teu nome expulsava demônios e nós lho proibimos, porque
não nos seguia.
39 Jesus, porém, respondeu: Não lho proibais; porque
ninguém há que faça milagre em meu nome e possa
logo depois falar mal de mim;
40 pois quem não é contra nós, é por nós.
41 Porquanto, qualquer que vos der a beber um copo de água em
meu nome, porque sois de Cristo, em verdade vos digo que de modo algum
perderá a sua recompensa.
Os tropeços
42 Mas qualquer que fizer tropeçar um destes
pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe
pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho e que fosse
lançado no mar.
43 E se a tua mão te fizer tropeçar, corta-a; melhor
é entrares na vida aleijado, do que, tendo duas mãos,
ires para o inferno, para o fogo que nunca se apaga.
44 [onde o seu verme não morre, nem o fogo não se apaga.]
45 Ou, se o teu pé te fizer tropeçar, corta-o; melhor
é entrares coxo na vida, do que, tendo dois pés, seres
lançado no inferno.
46 [onde o seu verme não morre, nem o fogo não se apaga.]
47 Ou, se o teu olho te fizer tropeçar, lança-o fora;
melhor é entrares no reino de Deus com um só olho, do
que, tendo dois olhos, seres lançado no inferno,
48 onde o seu verme não morre, nem o fogo não se apaga.
Os discípulos, o sal da terra
49 Porque cada um será salgado com fogo.
50 Bom é o sal; mas, se o sal se tornar insípido, com que
o haveis de temperar? Tende sal em vós mesmos e guardai a paz
uns com os outros.
Jesus atravessa o Jordão
10 Levantando-se Jesus, partiu dali para
os termos da Judeia, para além do Jordão; e de novo as
multidões se reuniram em torno dele; e tornou a
ensiná-las, como tinha por costume.
A questão do divórcio
2 Então, se aproximaram dele alguns fariseus e,
para o experimentarem, lhe perguntaram: É lícito ao homem
repudiar sua mulher?
3 Ele, porém, respondeu-lhes: Que vos ordenou Moisés?
4 Replicaram eles: Moisés permitiu escrever carta de divórcio e repudiar a mulher.
5 Disse-lhes Jesus: Pela dureza dos vossos corações ele vos deixou escrito esse mandamento.
6 Mas desde o princípio da criação, Deus os fez homem e mulher.
7 Por isso deixará o homem a seu pai e a sua mãe, [e unir-se-á à sua mulher,]
8 e serão os dois uma só carne; assim já não são mais dois, mas uma só carne.
9 Porquanto, o que Deus ajuntou, não o separe o homem.
10 Em casa, os discípulos interrogaram-no de novo sobre isso.
11 Ao que lhes respondeu: Qualquer que repudiar sua mulher e casar com outra, comete adultério contra ela;
12 e se ela repudiar seu marido e casar com outro, comete adultério.
Jesus abençoa as crianças
13 Então, lhe traziam algumas crianças para que as tocasse; mas os discípulos os repreenderam.
14 Jesus, porém, vendo isto, indignou-se e disse-lhes: Deixai
vir a mim as crianças e não as impeçais, porque de
tais é o reino de Deus.
15 Em verdade vos digo que qualquer que não receber o reino de
Deus como criança, de maneira nenhuma entrará nele.
16 E, tomando-as nos seus braços, as abençoou, pondo as mãos sobre elas.
O jovem rico
17 E, pondo-se Jesus a caminho, correu para ele um
homem, o qual se ajoelhou diante dele e lhe perguntou: Bom Mestre, que
hei de fazer para herdar a vida eterna?
18 Respondeu-lhe Jesus: Por que me chamas bom? Ninguém é bom, senão um que é Deus.
19 Sabes os mandamentos: Não matarás; não
adulterarás; não furtarás; não dirás
falso testemunho; a ninguém defraudarás; honra a teu pai
e a tua mãe.
20 Ele, porém, lhe replicou: Mestre, tudo isso tenho guardado desde a minha juventude.
21 E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Uma coisa te falta;
vai vende tudo quanto tens e dá-o aos pobres, e terás um
tesouro no céu; e vem, segue-me.
22 Mas ele, pesaroso desta palavra, retirou-se triste, porque possuía muitos bens.
O perigo das riquezas
23 Então, Jesus, olhando em redor, disse aos
seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no
reino de Deus os que têm riquezas!
24 E os discípulos se maravilharam destas suas palavras; mas
Jesus, tornando a falar, disse-lhes: Filhos, quão difícil
é [para os que confiam nas riquezas] entrar no reino de Deus!
25 É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus.
26 Com isso, eles ficaram sobremaneira maravilhados, dizendo entre si: Quem pode, então, ser salvo?
27 Jesus, fixando os olhos neles, respondeu: Para os homens é
impossível, mas não para Deus; porque para Deus tudo
é possível.
28 Pedro começou a dizer-lhe: Eis que nós deixamos tudo e te seguimos.
29 Respondeu Jesus: Em verdade vos digo que ninguém há
que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou
mãe, ou pai, ou filhos, ou campos, por amor de mim e do
evangelho,
30 que não receba cem vezes tanto, já neste tempo, em
casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e
campos, com perseguições; e no mundo vindouro, a vida
eterna.
31 Mas muitos que são primeiros serão últimos; e
muitos que são últimos, serão primeiros.
Jesus ainda outra vez prediz a sua morte e ressurreição
32 Ora, estavam a caminho, subindo para
Jerusalém; e Jesus ia adiante deles, e eles se maravilhavam e o
seguiam atemorizados. De novo tomou consigo os doze e começou a
contar-lhes as coisas que lhe haviam de sobrevir,
33 dizendo: Eis que subimos a Jerusalém, e o Filho do Homem
será entregue aos principais sacerdotes e aos escribas; e eles o
condenarão à morte, e o entregarão aos gentios;
34 e hão de escarnecê-lo e cuspir nele,
açoitá-lo e matá-lo; e depois de três dias,
ressurgirá.
O pedido de Tiago e João
35 Nisso, aproximaram-se dele Tiago e João,
filhos de Zebedeu, dizendo-lhe: Mestre, queremos que nos faças o
que te pedirmos.
36 Ele, pois, lhes perguntou: Que quereis que eu vos faça?
37 Responderam-lhe: Concede-nos que, na tua glória, nos sentemos um à tua direita e outro à tua esquerda.
38 Mas Jesus lhes disse: Não sabeis o que pedis; podeis beber o
cálice que eu bebo e ser batizados no batismo em que eu sou
batizado?
39 E lhe responderam: Podemos. Mas Jesus lhes disse: O cálice
que eu bebo, haveis de bebê-lo, e no batismo em que eu sou
batizado, haveis de ser batizados;
40 mas o sentar-se à minha direita, ou à minha esquerda,
não me pertence concedê-lo; mas isso é para aqueles
a quem está reservado.
41 E ouvindo isso os dez, começaram a indignar-se contra Tiago e João.
42 Então, Jesus chamou-os para junto de si e lhes disse: Sabeis
que os que são reconhecidos como governadores dos gentios, deles
se assenhoreiam, e que sobre eles os seus grandes exercem autoridade.
43 Mas entre vós não será assim; antes, qualquer
que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que
vos sirva;
44 e qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, será servo de todos.
45 Pois também o Filho do Homem não veio para ser
servido, mas para servir e para dar a sua vida em resgate de muitos.
A cura do cego de Jericó
46 Depois, chegaram a Jericó. E, ao sair ele de
Jericó com seus discípulos e uma grande multidão,
estava sentado junto do caminho um mendigo cego, Bartimeu, filho de
Timeu.
47 Este, quando ouviu que era Jesus, o nazareno, começou a
clamar, dizendo: Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!
48 E muitos o repreendiam, para que se calasse; mas ele clamava ainda mais: Filho de Davi, tem compaixão de mim.
49 Parou, pois, Jesus e disse: Chamai-o. E chamaram o cego, dizendo-lhe: Tem bom ânimo; levanta-te, ele te chama.
50 Nisto, lançando de si a sua capa, de um salto se levantou e foi ter com Jesus.
51 Perguntou-lhe Jesus: Que queres que te faça? Respondeu-lhe o cego: Mestre, que eu veja.
52 Disse-lhe Jesus: Vai, a tua fé te salvou. E imediatamente recuperou a vista e foi seguindo pelo caminho.
A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém
11 Ora, quando se aproximavam de
Jerusalém, de Betfagé e de Betânia, junto do Monte
das Oliveiras, enviou Jesus dois dos seus discípulos
2 e disse-lhes: Ide à aldeia que está defronte de
vós; e logo que nela entrardes, encontrareis preso um
jumentinho, o qual ainda ninguém montou; desprendei-o e trazei-o.
3 E se alguém vos perguntar: Por que fazeis isso? Respondei: O
Senhor precisa dele e logo tornará a enviá-lo para aqui.
4 Foram, pois, e acharam o jumentinho preso ao portão do lado de fora na rua e o desprenderam.
5 E alguns dos que ali estavam lhes perguntaram: Que fazeis, desprendendo o jumentinho?
6 Responderam como Jesus lhes tinha mandado; e lho deixaram levar.
7 Então, trouxeram a Jesus o jumentinho e lançaram sobre ele os seus mantos; e Jesus montou nele.
8 Muitos também estenderam pelo caminho os seus mantos, e outros, ramagens que tinham cortado nos campos.
9 E tanto os que o precediam como os que o seguiam, clamavam: Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor!
10 Bendito o reino que vem, o reino de nosso pai Davi! Hosana nas alturas!
11 Tendo Jesus entrado em Jerusalém, foi ao templo; e tendo
observado tudo em redor, como já fosse tarde, saiu para
Betânia com os doze.
A figueira sem fruto
12 No dia seguinte, depois de saírem de Betânia, teve fome.
13 E, avistando de longe uma figueira que tinha folhas, foi ver se,
porventura, acharia nela alguma coisa; e chegando a ela, nada achou,
senão folhas, porque não era tempo de figos.
14 E Jesus, falando, disse à figueira: Nunca mais coma alguém fruto de ti. E seus discípulos ouviram isso.
A purificação do templo
15 Chegaram, pois, a Jerusalém. E entrando ele
no templo, começou a expulsar os que ali vendiam e compravam; e
derribou as mesas dos cambistas, e as cadeiras dos que vendiam pombas;
16 e não consentia que ninguém atravessasse o templo levando qualquer utensílio;
17 e ensinava, dizendo-lhes: Não está escrito: A minha
casa será chamada casa de oração para todas as
nações? Vós, porém, a tendes feito covil de
salteadores.
18 Ora, os principais sacerdotes e os escribas ouviram isto, e
procuravam um modo de o matar; pois o temiam, porque toda a
multidão se maravilhava da sua doutrina.
19 Ao cair da tarde, saíam da cidade.
O poder da fé
20 Quando passavam na manhã seguinte, viram que a figueira tinha secado desde as raízes.
21 Então, Pedro, lembrando-se, disse-lhe: Olha, Mestre; secou-se a figueira que amaldiçoaste.
22 Respondeu-lhes Jesus: Tende fé em Deus.
23 Em verdade vos digo que qualquer que disser a este monte: Ergue-te e
lança-te no mar; e não duvidar em seu
coração, mas crer que se fará aquilo que diz,
assim lhe será feito.
24 Por isso, vos digo que tudo o que pedirdes em oração, crede que o recebereis, e tê-lo-eis.
25 Quando estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra
alguém, para que também vosso Pai que está no
céu, vos perdoe as vossas ofensas.
26 [Mas, se vós não perdoardes, também vosso Pai,
que está no céu, não vos perdoará as vossas
ofensas.]
A autoridade de Jesus e o batismo de João
27 Vieram de novo a Jerusalém. E andando Jesus
pelo templo, aproximaram-se dele os principais sacerdotes, os escribas
e os anciãos,
28 que lhe perguntaram: Com que autoridade fazes tu estas coisas? Ou quem te deu autoridade para fazê-las?
29 Respondeu-lhes Jesus: Eu vos perguntarei uma coisa; respondei-me,
pois, e eu vos direi com que autoridade faço estas coisas.
30 O batismo de João era do céu ou dos homens? Respondei-me.
31 Ao que eles arrazoavam entre si: Se dissermos: Do céu, ele dirá: Então, por que não o crestes?
32 Mas se dissermos: dos homens, é de temer o povo; porque todos verdadeiramente tinham a João como profeta.
33 Responderam, pois, a Jesus: Não sabemos. Replicou-lhes ele:
Nem eu vos digo com que autoridade faço estas coisas.
A parábola dos lavradores maus
12 Então, começou Jesus a
falar-lhes por parábolas. Um homem plantou uma vinha, cercou-a
com uma sebe, cavou um lagar, e edificou uma torre; depois, arrendou-a
a uns lavradores e ausentou-se do país.
2 No tempo próprio, enviou um servo aos lavradores para que deles recebesse do fruto da vinha.
3 Mas estes, apoderando-se dele, o espancaram e o mandaram embora de mãos vazias.
4 E tornou a enviar-lhes outro servo; e a este feriram na cabeça e o ultrajaram.
5 Então, enviou ainda outro, e a este mataram; e a outros muitos, dos quais a uns espancaram e a outros mataram.
6 Ora, tinha ele ainda um, o seu filho amado; a este lhes enviou por último, dizendo: A meu filho terão respeito.
7 Mas aqueles lavradores disseram entre si: Este é o herdeiro; vinde, matemo-lo, e a herança será nossa.
8 E, agarrando-o, o mataram e o lançaram fora da vinha.
9 Que fará, pois, o senhor da vinha? Virá, destruirá os lavradores e dará a vinha a outros.
10 Nunca lestes esta escritura: A pedra que os edificadores rejeitaram, essa foi posta como pedra angular;
11 pelo Senhor foi feito isso, e é maravilhoso aos nossos olhos?
12 Procuravam, então, prendê-lo, mas temeram a
multidão, pois perceberam que contra eles proferira essa
parábola; e, deixando-o, se retiraram.
A questão do tributo
13 Enviaram-lhe, então, alguns dos fariseus e dos herodianos, para que o apanhassem em alguma palavra.
14 Aproximando-se, pois, disseram-lhe: Mestre, sabemos que és
verdadeiro, e de ninguém se te dá; porque não
olhas à aparência dos homens, mas ensinas segundo a
verdade o caminho de Deus; é lícito dar tributo a
César ou não? Daremos ou não daremos?
15 Mas Jesus, percebendo a hipocrisia deles, respondeu-lhes: Por que me experimentais?
Trazei-me um denário para que eu o veja.
16 E eles lho trouxeram. Perguntou-lhes Jesus: De quem é esta
imagem e inscrição? Responderam-lhe: De César.
17 Disse-lhes Jesus: Dai, pois, a César o que é de
César, e a Deus o que é de Deus. E admiravam-se dele.
Os saduceus e a ressureição
18 Então, se aproximaram dele alguns dos
saduceus, que dizem não haver ressurreição, e lhe
perguntaram, dizendo:
19 Mestre, Moisés nos deixou escrito que se morrer
alguém, deixando mulher sem deixar filhos, o irmão dele
case com a mulher, e suscite descendência ao irmão.
20 Ora, havia sete irmãos; o primeiro casou-se e morreu sem deixar descendência;
21 o segundo casou-se com a viúva; mas morreu, não
deixando descendência; e da mesma forma, o terceiro; e assim os
sete, e não deixaram descendência.
22 Depois de todos, morreu também a mulher.
23 Na ressurreição, de qual deles será ela esposa, pois os sete por esposa a tiveram?
24 Respondeu-lhes Jesus: Porventura não errais vós em
razão de não compreenderdes as Escrituras nem o poder de
Deus?
25 Porquanto, ao ressuscitarem dos mortos, nem se casam, nem se
dão em casamento; pelo contrário, são como os
anjos nos céus.
26 Quanto aos mortos, porém, serem ressuscitados, não
lestes no livro de Moisés, onde se fala da sarça, como
Deus lhe disse: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o
Deus de Jacó?
27 Ora, ele não é Deus de mortos, mas de vivos. Estais em grande erro.
O grande mandamento
28 Aproximou-se dele um dos escribas que os ouvira
discutir e, percebendo que lhes havia respondido bem, perguntou-lhe:
Qual é o primeiro de todos os mandamentos?
29 Respondeu Jesus: O primeiro é: Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor.
30 Amarás, pois, ao Senhor, teu Deus, de todo o teu
coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e
de todas as tuas forças.
31 E o segundo é este: Amarás ao teu próximo como
a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que esses.
32 Ao que lhe disse o escriba: Muito bem, Mestre; com verdade disseste
que ele é um e fora dele não há outro;
33 e que amá-lo de todo o coração, de todo o
entendimento e de todas as forças, e amar o próximo como
a si mesmo, é mais do que todos os holocaustos e
sacrifícios.
34 E Jesus, vendo que havia respondido sabiamente, disse-lhe:
Não estás longe do reino de Deus. E ninguém ousava
mais interrogá-lo.
O Cristo, filho de Davi
35 Por sua vez, Jesus, enquanto ensinava no templo,
perguntou: Como é que os escribas dizem que o Cristo é
filho de Davi?
36 O próprio Davi falou, movido pelo Espírito Santo:
Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita,
até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés.
37 Davi mesmo lhe chama Senhor; como é ele seu filho? E a grande multidão o ouvia com prazer.
Jesus censura os escribas
38 E prosseguindo ele no seu ensino, disse:
Guardai-vos dos escribas, que gostam de andar com vestes compridas e
das saudações nas praças,
39 e dos primeiros assentos nas sinagogas e dos primeiros lugares nos banquetes,
40 que devoram as casas das viúvas e por pretexto fazem longas
orações; estes hão de receber muito maior
condenação.
A oferta da viúva pobre
41 E sentando-se Jesus defronte do cofre das ofertas,
observava como a multidão lançava dinheiro no cofre; e
muitos ricos deitavam muito.
42 Vindo, porém, uma pobre viúva, lançou dois leptos, que valiam um quadrante.
43 E chamando ele os seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos
digo que esta pobre viúva deu mais do que todos os que deitavam
ofertas no cofre;
44 porque todos deram daquilo que lhes sobrava; mas esta, da sua pobreza, deu tudo o que tinha, mesmo todo o seu sustento.
O sermão profético.
A destruição do templo
13
Quando saía do templo, disse-lhe um dos seus discípulos: Mestre, olha que pedras e que edifícios!
2 Ao que Jesus lhe disse: Vês estes grandes edifícios?
Não se deixará aqui pedra sobre pedra que não seja
derribada.
O princípio das dores
3 Depois, estando ele sentado no Monte das Oliveiras,
defronte do templo, Pedro, Tiago, João e André
perguntaram-lhe em particular:
4 Dize-nos quando sucederão essas coisas, e que sinal haverá quando todas elas estiverem para se cumprir?
5 Então, Jesus começou a dizer-lhes: Acautelai-vos; ninguém vos engane;
6 muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu; e a muitos enganarão.
7 Quando, porém, ouvirdes falar em guerras e rumores de guerras,
não vos perturbeis; forçoso é que assim
aconteça; mas ainda não é o fim.
8 Pois se levantará nação contra
nação, e reino contra reino; e haverá terremotos
em diversos lugares, e haverá fomes. Isso será o
princípio das dores.
9 Mas olhai por vós mesmos; pois por minha causa vos hão
de entregar aos tribunais e às sinagogas, e sereis
açoitados; também sereis levados perante governadores e
reis, para lhes servir de testemunho.
10 Mas importa que primeiro o evangelho seja pregado entre todas as nações.
11 Quando, pois, vos conduzirem para vos entregar, não vos
preocupeis com o que haveis de dizer; mas, o que vos for dado naquela
hora, isso falai; porque não sois vós que falais, mas sim
o Espírito Santo.
12 Um irmão entregará à morte a seu irmão,
e um pai a seu filho; e filhos se levantarão contra os pais e os
matarão.
13 E sereis odiados de todos por causa do meu nome; mas aquele que perseverar até o fim, esse será salvo.
A grande tribulação
14 Ora, quando vós virdes a
abominação da desolação estar onde
não deve estar (quem lê, entenda), então, os que
estiverem na Judeia, fujam para os montes;
15 quem estiver no eirado, não desça, nem entre para tirar alguma coisa da sua casa;
16 e quem estiver no campo, não volte atrás para buscar a sua capa.
17 Mas ai das que estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles dias!
18 Orai, pois, para que isto não suceda no inverno;
19 porque, naqueles dias, haverá uma tribulação
tal, qual nunca houve desde o princípio da
criação, que Deus criou, até agora, nem jamais
haverá.
20 Se o Senhor não abreviasse aqueles dias, ninguém se
salvaria mas ele, por causa dos eleitos que escolheu, abreviou aqueles
dias.
21 Então, se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! Ou: Ei-lo ali! Não acrediteis.
22 Porque hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e
farão sinais e prodígios para enganar, se
possível, até os escolhidos.
23 Ficai vós, pois, de sobreaviso; eis que de antemão vos tenho dito tudo.
A vinda do Filho do Homem
24 Mas, naqueles dias, depois daquela tribulação, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz;
25 as estrelas cairão do céu, e os poderes que estão nos céus, serão abalados.
26 Então, verão vir o Filho do Homem nas nuvens, com grande poder e glória.
27 E logo enviará os seus anjos, e ajuntará os seus
eleitos, desde os quatro ventos, desde a extremidade da terra
até a extremidade do céu.
A parábola da figueira.
Exortação à vigilância
28 Da figueira, pois, aprendei a parábola:
Quando já o seu ramo se torna tenro e brota folhas, sabeis que
está próximo o verão.
29 Assim também vós, quando virdes sucederem essas
coisas, sabei que ele está próximo, mesmo às
portas.
30 Em verdade vos digo que não passará esta
geração, até que todas essas coisas
aconteçam.
31 Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão.
32 Quanto, porém, ao dia e à hora, ninguém sabe,
nem os anjos no céu, nem o Filho, senão o Pai.
33 Olhai! Vigiai! Porque não sabeis quando chegará o tempo.
34 É como se um homem, devendo viajar, ao deixar a sua casa,
desse autoridade aos seus servos, a cada um o seu trabalho, e ordenasse
também ao porteiro que vigiasse.
35 Vigiai, pois; porque não sabeis quando virá o senhor
da casa; se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do
galo, se pela manhã;
36 para que, vindo de improviso, não vos ache dormindo.
37 O que vos digo a vós, a todos o digo: Vigiai.
O plano para tirar a vida de Jesus
14 Ora, dali a dois dias era a
páscoa e a festa dos pães asmos; e os principais
sacerdotes e os escribas andavam buscando como prender Jesus, à
traição, para o matarem.
2 Pois eles diziam: Não durante a festa, para que não haja tumulto entre o povo.
Jesus ungido em Betânia
3 Estando ele em Betânia, reclinado à
mesa em casa de Simão, o leproso, veio uma mulher que trazia um
vaso de alabastro cheio de bálsamo de nardo puro, de grande
preço; e, quebrando o vaso, derramou-lhe sobre a cabeça o
bálsamo.
4 Mas alguns houve que em si mesmos se indignaram e disseram: Para que se fez este desperdício do bálsamo?
5 Pois podia ser vendido por mais de trezentos denários que se dariam aos pobres. E bramavam contra ela.
6 Jesus, porém, disse: Deixai-a; por que a molestais? Ela praticou uma boa ação para comigo.
7 Porquanto os pobres, sempre os tendes convosco e, quando quiserdes,
podeis fazer-lhes bem; a mim, porém, nem sempre me tendes.
8 Ela fez o que pôde; antecipou-se a ungir o meu corpo para a sepultura.
9 Em verdade vos digo que, em todo o mundo, onde quer que for pregado o
evangelho, também o que ela fez será contado para
memória sua.
O pacto da traição
10 Então, Judas Iscariotes, um dos doze, foi ter com os principais sacerdotes para lhes entregar Jesus.
11 Ouvindo-o eles, alegraram-se, e prometeram dar-lhe dinheiro. E buscava como o entregaria em ocasião oportuna.
Os discípulos preparam a Páscoa
12 Ora, no primeiro dia dos pães asmos, quando
imolavam a páscoa, disseram-lhe seus discípulos: Aonde
queres que vamos fazer os preparativos para comeres a páscoa?
13 Enviou, pois, dois dos seus discípulos e disse-lhes: Ide
à cidade; vos sairá ao encontro um homem levando um
cântaro de água; seguí-o;
14 e, onde ele entrar, dizei ao dono da casa: O Mestre manda perguntar:
Onde está o meu aposento em que hei de comer a páscoa com
os meus discípulos?
15 E ele vos mostrará um grande cenáculo mobiliado e pronto; aí fazei-nos os preparativos.
16 Partindo, pois, os discípulos, foram à cidade, onde
acharam tudo como ele lhes dissera, e prepararam a páscoa.
O traidor é indicado
17 Ao anoitecer, chegou ele com os doze.
18 E, quando estavam reclinados à mesa e comiam, disse Jesus: Em
verdade vos digo que um de vós, que comigo come, há de
trair-me.
19 Ao que eles começaram a entristecer-se e a perguntar-lhe um após outro: Porventura sou eu?
20 Respondeu-lhes: É um dos doze, que mete comigo a mão no prato.
21 Pois o Filho do Homem vai, conforme está escrito a seu respeito; mas ai daquele por quem o
Filho do Homem é traído! Bom seria para esse homem se não houvera nascido.
A Ceia do Senhor
22 Enquanto comiam, Jesus tomou pão e, abençoando-o, o partiu e
lhes deu, dizendo: Tomai; isto é o meu corpo.
23 E tomando um cálice, rendeu graças e lhes deu; e todos beberam dele.
24 E disse-lhes: Isto é o meu sangue, o sangue do pacto, que por muitos é derramado.
25 Em verdade vos digo que não beberei mais do fruto da videira,
até aquele dia em que o beber, novo, no reino de Deus.
26 E, tendo cantado um hino, saíram para o Monte das Oliveiras.
Pedro é avisado
27 Disse-lhes, então, Jesus: Todos vós
vos escandalizareis; porque escrito está: Ferirei o pastor e as
ovelhas se dispersarão.
28 Todavia, depois que eu ressurgir, irei adiante de vós para a Galileia.
29 Ao que Pedro lhe disse: Ainda que todos se escandalizem, nunca, porém, eu.
30 Replicou-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje, nesta noite, antes
que o galo cante duas vezes, três vezes tu me negarás.
31 Mas ele repetia com veemência: Ainda que me seja
necessário morrer contigo, de modo nenhum te negarei. Assim
também diziam todos.
Jesus no Getsêmani
32 Então, chegaram a um lugar chamado
Getsêmani, e disse Jesus a seus discípulos: Sentai-vos
aqui, enquanto eu oro.
33 E levou consigo a Pedro, a Tiago e a João, e começou a ter pavor e a angustiar-se;
34 e disse-lhes: A minha alma está triste até a morte; ficai aqui e vigiai.
35 E adiantando-se um pouco, prostrou-se em terra; e orava para que, se fosse possível, passasse dele aquela hora.
36 E dizia: Aba, Pai, tudo te é possível; afasta de mim
este cálice; todavia, não seja o que eu quero, mas o que
tu queres.
37 Voltando, achou-os dormindo; e disse a Pedro: Simão, dormes? Não pudeste vigiar uma hora?
38 Vigiai e orai, para que não entreis em
tentação; o espírito, na verdade, está
pronto, mas a carne é fraca.
39 Retirou-se de novo e orou, dizendo as mesmas palavras.
40 E voltando outra vez, achou-os dormindo, porque seus olhos estavam carregados; e não sabiam o que lhe responder.
41 Ao voltar pela terceira vez, disse-lhes: Ainda dormis e repousai! Basta; é chegada a hora. Eis que o
Filho do Homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores.
42 Levantai-vos, vamo-nos; eis que é chegado aquele que me trai.
Jesus é preso
43 E logo, enquanto ele ainda falava, chegou Judas, um
dos doze, e com ele uma multidão com espadas e varapaus, vinda
da parte dos principais sacerdotes, dos escribas e dos anciãos.
44 Ora, o que o traía lhes havia dado um sinal, dizendo: Aquele
que eu beijar, esse é; prendei-o e levai-o com segurança.
45 E, logo que chegou, aproximando-se de Jesus, disse: Rabi! E o beijou.
46 Ao que eles lhes lançaram as mãos e o prenderam.
47 Mas um dos que ali estavam, puxando da espada, feriu o servo do sumo sacerdote e cortou-lhe uma orelha.
48 Disse-lhes Jesus: Saístes com espadas e varapaus para me prender, como a um salteador?
49 Todos os dias estava convosco no templo, a ensinar, e não me
prendestes; mas isto é para que se cumpram as Escrituras.
50 Nisto, todos o deixaram e fugiram.
Jesus seguido por um jovem
51 Ora, seguia-o certo jovem envolto em um lençol sobre o corpo nu; e o agarraram.
52 Mas ele, largando o lençol, fugiu despido.
Jesus perante o Sinédrio
53 Levaram Jesus ao sumo sacerdote, e ajuntaram-se todos os principais sacerdotes, os anciãos e os escribas.
54 E Pedro o seguiu de longe até dentro do pátio do sumo
sacerdote, e estava sentado com os guardas, aquentando-se ao fogo.
55 Os principais sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam algum
testemunho contra Jesus para o matar e não o achavam.
56 Porque contra ele muitos depunham falsamente, mas os testemunhos não concordavam.
57 Levantaram-se, por fim, alguns que depunham falsamente contra ele, dizendo:
58 Nós o ouvimos dizer: Eu destruirei este santuário,
construído por mãos de homens, e em três dias
edificarei outro, não feito por mãos de homens.
59 E nem assim concordava o seu testemunho.
60 Levantou-se, então, o sumo sacerdote no meio e perguntou a
Jesus: Não respondes coisa alguma? Que é que estes
depõem conta ti?
61 Ele, porém, permaneceu calado, e nada respondeu. Tornou o
sumo sacerdote a interrogá-lo, perguntando-lhe: És tu o
Cristo, o Filho do Deus bendito?
62 Respondeu Jesus: Eu o sou; e vereis o Filho do Homem assentado à direita do
Todo-Poderoso e vindo com as nuvens do céu.
63 Então, o sumo sacerdote rasgou as suas vestes e disse: Para que precisamos ainda de testemunhas?
64 Acabais de ouvir a blasfêmia; que vos parece? E todos o condenaram como réu de morte.
65 E alguns começaram a cuspir nele, e a cobrir-lhe o rosto, e a
dar-lhe socos, e a dizer-lhe: Profetiza. E os guardas receberam-no a
bofetadas.
Pedro nega a Jesus
66 Ora, estando Pedro em baixo, no átrio, chegou uma das criadas do sumo sacerdote
67 e, vendo a Pedro, que se estava aquentando, encarou-o e disse: Tu também estavas com o nazareno, esse Jesus.
68 Mas ele o negou, dizendo: Não sei nem compreendo o que dizes. E saiu para o alpendre.
69 E a criada, vendo-o, começou de novo a dizer aos que ali estavam: Esse é um deles.
70 Mas ele o negou outra vez. E, pouco depois, os que ali estavam
disseram novamente a Pedro: Certamente tu és um deles; pois
és também galileu.
71 Ele, porém, começou a praguejar e a jurar: Não conheço esse homem de quem falais.
72 Nesse instante o galo cantou pela segunda vez. E Pedro lembrou-se da
palavra que lhe dissera Jesus: Antes que o galo cante duas vezes,
três vezes me negarás. E caindo em si, começou a
chorar.
Jesus perante Pilatos
15 Logo de manhã, tiveram conselho
os principais sacerdotes com os anciãos, os escribas e todo o
sinédrio; e atando a Jesus, o levaram e o entregaram a Pilatos.
2 Pilatos lhe perguntou: És tu o rei dos judeus? Respondeu-lhe Jesus: É como dizes.
3 E os principais dos sacerdotes o acusavam de muitas coisas.
4 Tornou Pilatos a interrogá-lo, dizendo: Não respondes nada? Vê quantas acusações te fazem.
5 Mas Jesus nada mais respondeu, de maneira que Pilatos se admirava.
6 Ora, por ocasião da festa, costumava soltar-lhes um preso qualquer que eles pedissem.
7 E havia um, chamado Barrabás, preso com outros sediciosos, os quais num motim haviam cometido um homicídio.
8 E a multidão subiu e começou a pedir o que lhe costumava fazer.
9 Ao que Pilatos lhes perguntou: Quereis que vos solte o rei dos judeus?
10 Pois ele sabia que por inveja os principais sacerdotes lho haviam entregado.
11 Mas os principais sacerdotes incitaram a multidão a pedir que lhes soltasse antes a Barrabás.
12 E Pilatos, tornando a falar, perguntou-lhes: Que farei então daquele a quem chamais reis dos judeus?
13 Novamente clamaram eles: Crucifica-o!
14 Disse-lhes Pilatos: Mas que mal fez ele? Ao que eles clamaram ainda mais: Crucifica-o!
15 Então, Pilatos, querendo satisfazer a multidão,
soltou-lhes Barrabás; e tendo mandado açoitar a Jesus, o
entregou para ser crucificado.
Jesus entregue aos soldados
16 Os soldados, pois, levaram-no para dentro, ao pátio, que é o pretório, e convocaram toda a corte;
17 vestiram-no de púrpura e puseram-lhe na cabeça uma coroa de espinhos que haviam tecido;
18 e começaram a saudá-lo: Salve, rei dos judeus!
19 Davam-lhe com uma cana na cabeça, cuspiam nele e, postos de joelhos, o adoravam.
20 Depois de o terem assim escarnecido, despiram-lhe a púrpura,
e lhe puseram as vestes. Então, o levaram para fora, a fim de o
crucificarem.
Simão leva a cruz de Jesus
21 E obrigaram certo Simão, cireneu, pai de
Alexandre e de Rufo, que por ali passava, vindo do campo, a
carregar-lhe a cruz.
A crucificação
22 Levaram-no, pois, ao lugar do Gólgota, que quer dizer, lugar da Caveira.
23 E ofereciam-lhe vinho misturado com mirra; mas ele não o tomou.
24 Então, o crucificaram e repartiram entre si as vestes dele,
lançando sortes sobre elas para ver o que cada um levaria.
25 E era a hora terceira quando o crucificaram.
26 Por cima dele estava escrito o título da sua acusação: O REI DOS JUDEUS.
27 Com ele crucificaram dois salteadores, um à sua direita, e outro à esquerda.
28 [E cumpriu-se a escritura que diz: E com os malfeitores foi contado.]
29 E os que iam passando blasfemavam dele, meneando a cabeça e
dizendo: Ah! Tu que destróis o santuário e em três
dias o reedificas.
30 Salva-te a ti mesmo, descendo da cruz.
31 De igual modo, também os principais sacerdotes, com os
escribas, escarnecendo-o, diziam entre si: A outros salvou; a si mesmo
não pode salvar;
32 desça agora da cruz o Cristo, o rei de Israel, para que
vejamos e creiamos. Também os que com ele foram crucificados o
injuriavam.
A morte de Jesus
33 E, chegada a hora sexta, houve trevas sobre a terra, até a hora nona.
34 E, à hora nona, bradou Jesus em alta voz: Eloí,
Eloí, lamá, sabactani? Que, traduzido, é: Deus
meu, Deus meu, por que me desamparaste?
35 Alguns dos que ali estavam, ouvindo isso, diziam: Eis que chama por Elias.
36 Correu um deles, ensopou uma esponja em vinagre e, pondo-a numa
cana, dava-lhe de beber, dizendo: Deixai, vejamos se Elias virá
tirá-lo.
37 Mas Jesus, dando um grande brado, expirou.
38 Então, o véu do santuário se rasgou em dois, de alto a baixo.
39 Ora, o centurião, que estava defronte dele, vendo-o assim
expirar, disse: Verdadeiramente este homem era filho de Deus.
40 Também ali estavam algumas mulheres olhando de longe, entre elas Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, o
menor, e de José, e Salomé;
41 as quais o seguiam e o serviam quando ele estava na Galileia; e muitas outras que tinham subido com ele a Jerusalém.
O sepultamento de Jesus
42 Ao cair da tarde, como era o dia da preparação, isto é, a véspera do sábado,
43 José de Arimateia, ilustre membro do sinédrio, que
também esperava o reino de Deus, cobrando ânimo, foi a
Pilatos e pediu o corpo de Jesus.
44 Admirou-se Pilatos de que já tivesse morrido; e chamando o centurião, perguntou-lhe se, de fato, havia morrido.
45 E, depois que o soube do centurião, cedeu o cadáver a José;
46 o qual, tendo comprado um pano de linho, tirou da cruz o corpo,
envolveu-o no pano e o depositou num sepulcro aberto em rocha; e rolou
uma pedra para a porta do sepulcro.
47 E Maria Madalena e Maria, mãe de José, observavam onde fora posto.
A ressurreição de Jesus
16
Ora, passado o sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé, compraram aromas para irem ungi-lo.
2 E, no primeiro dia da semana, foram ao sepulcro muito cedo, ao levantar do sol.
3 E diziam umas às outras: Quem nos revolverá a pedra da porta do sepulcro?
4 Mas, levantando os olhos, notaram que a pedra, que era muito grande, já estava revolvida;
5 e entrando no sepulcro, viram um moço sentado à direita, vestido de alvo manto; e ficaram atemorizadas.
6 Ele, porém, lhes disse: Não vos atemorizeis; buscais a
Jesus, o nazareno, que foi crucificado; ele ressurgiu; não
está aqui; eis o lugar onde o puseram.
7 Mas ide, dizei a seus discípulos, e a Pedro, que ele vai
adiante de vós para a Galileia; ali o vereis, como ele vos disse.
8 E, saindo elas, fugiram do sepulcro, porque estavam possuídas
de medo e assombro; e não disseram nada a ninguém, porque
temiam.
Jesus aparece a Maria Madalena
9 [Ora, havendo Jesus ressurgido cedo no primeiro dia
da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, da qual tinha
expulsado sete demônios.
10 Foi ela anunciá-lo aos que haviam andado com ele, os quais estavam tristes e chorando;
11 e ouvindo eles que vivia, e que tinha sido visto por ela, não o creram.
Jesus aparece a dois de seus discípulos
12 Depois disso, manifestou-se sob outra forma a dois deles que iam de caminho para o campo,
13 os quais foram anunciá-lo aos outros; mas nem a estes deram crédito.
A ordem para a evangelização
14 Por último, então, apareceu aos onze,
estando eles reclinados à mesa, e lançou-lhes em rosto a
sua incredulidade e dureza de coração, por não
haverem dado crédito aos que o tinham visto já ressurgido.
15 E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura.
16 Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer, será condenado.
17 E estes sinais acompanharão aos que crerem: em meu nome
expulsarão demônios; falarão novas línguas;
18 pegarão em serpentes; e se beberem alguma coisa
mortífera, não lhes fará dano algum; e
porão as mãos sobre os enfermos, e estes serão
curados.
A ascenção de Jesus
19 Ora, o Senhor, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu, e assentou-se à direita de Deus.
20 Eles, pois, saindo, pregaram por toda parte, cooperando com eles o
Senhor e confirmando a palavra com os sinais que os acompanhavam.]
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